Técnico da Ucrânia: "No meio desta guerra, força dos atletas me surpreende" xs5x
É difícil ver sorrisos abertos. No aquecimento, são raras as brincadeiras. Na hora do hino nacional, alguns segundos de reflexão e orgulho. Longe do front de batalha, os jogadores da seleção da Ucrânia buscam, enquanto estão em quadra, no Ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, se desligar da dura realidade vivida por familiares e amigos durante a guerra com a Rússia. Ao lado deles na quadra, o técnico argentino Raul Lozano tenta extrair o máximo de quem sofre demais com a situação. 1s4r6r
Lozano é um veterano de 68 anos, com agem por uma dezena de países diferentes, como Polônia, Alemanha, Japão, China, Itália, entre outros. Ao assumir a Ucrânia, em 2024, já durante a guerra com a Rússia, ele ou a conviver com uma realidade difícil de compreender para quem está distante do dia a dia dos ucranianos.
Por segurança, o time basicamente treina em 95% do tempo na vizinha Polônia. As idas para a Ucrânia são raras e sempre por um curto período de tempo. Antes do início da Liga das Nações (VNL), o time ou uma semana "em casa", mas longe do front e sem se aproximar da capital Kiev, palco de bombardeios frequentes dos russos. Neste período, dois jogadores foram pais. E, emocionado, o técnico Lozano relata a difícil realidade.
- A terceira filha do Tupchii, o nosso oposto, nasceu quando estávamos treinando. Ele ainda não a conhece. Já Luna, filha do Nalozhnyi (ponteiro), nasceu numa sexta e no sábado fomos para a Polônia. Ele ou apenas um dia com ela e não sabe mais quando a verá agora. Isso são coisas que marcam, pois mostra a sensação real de tudo que eles estão ando desde a invasão - conta Lozano ao Web Vôlei.
Quando pegam os telefones após cada treino ou jogo, os jogadores ucranianos se atualizam da situação dos entes queridos. É nesta hora que a dura realidade volta a fazer parte de quem deveria estar focado em treinar e jogar a principal competição de vôlei do calendário anual.
- Temos jogadores que tiveram casa destruída e precisam mudar com a família para locais mais seguros. Muitos tiveram amigos e conhecidos mortos. Eles, no entanto, não se queixam. Nessa situação, me surpreende a atitude da equipe e a força dos atletas. Vamos ficar cinco meses sem voltar para casa, eles não vão ver a família. Não é nada fácil esse cenário - comenta o técnico.
POLÍTICA E ESPORTE SE MISTURAM 2w1x63
Mundo afora, os ucranianos encontram algum carinho enquanto jogam vôlei. Na última quarta-feira (11/6), tiveram o apoio da maioria dos torcedores presentes no Maracanãzinho. E a vitória por 3 a 0 sobre os Estados Unidos teve um sabor especial. Cuidadoso com as palavras, Lozano sabe o quanto era especial o duelo, após o apoio americano à Ucrânia diminuir com a chegada de Donald Trump ao poder:
- Para eles essa vitória foi mais especial do que nunca. Por um lado, a Ucrânia não está acostumada a jogar esse tipo de campeonato. Já seria sensacional vencer os Estados Unidos. E com a atual política do Trump, ainda mais.
O técnico argentino termina a entrevista fazendo um apelo:
- Não sou um treinador que se mete em política, mas até certo ponto. Os russos estão bombardeando os civis e isso é terrível. Uma coisa é que lutem os exércitos e se bombardeiem as tropas. Bombardear os civis é covardia. Vamos seguir dando o máximo para que as pessoas vejam a Ucrânia e queiram saber o que a na Ucrânia. A guerra já dura três anos e infelizmente parece não ter data para acabar.